sábado, 27 de novembro de 2010

Evolução, Gripe Suína e Ética

Há algum tempo em meu Blog [1] e em sites que participo, venho trazendo alguns alertas relacionados com questões éticas na área de ciência, pontuando que a ciência, considerada como um método de aquisição de conhecimento seguro, embora tenha um imbricamento com a questão do fazer prático e da tecnologia, não poderia ser responsabilizada pelo mau uso daquilo que traz.

Isso tem provocado reações tanto de cientificistas quanto dos detratores das ciências. Uns pregam um purismo no fazer ciência que fica difícil vê-lo numa sociedade cuja ética de seu sistema econômico se apropria de tudo para o transformar em mercadoria e lucro. Outros pregam um total imbricamento entre o sistema e o fazer ciência, dizendo que a ciência como conhecemos hoje só é o que é por causa dos interesses do sistema por trás dela e de todo fenômeno social humano atual.

ciencia A ciência é um fenômeno histórico e tem em sua ocorrência um sujeito histórico que a faz; disso não podemos duvidar. Que exista um imbricamento entre a forma como ela é feita e o sistema econômico que historicamente a insere como fenômeno humano, também não temos como questionar. No entanto, tanto a ciência enquanto fenômeno humano histórico, quanto os homens que a faz ao longo dos tempos, pouco ou nada tiveram a ver com uma motivação direcionada ao atendimento das necessidades de mercado dos agentes econômicos individuais que compõem o sistema como um todo e é sua mola propulsora.

O fazer ciências está imbricado com motivações individuais e sociais cujos desdobramentos sempre estiveram em voltas da solução de nossos problemas de sobrevivência num mundo inóspito, mas que pode ser conhecido. O direcionamento dessas motivações (justificáveis por si mesmas) para questões de classe e exploração econômica ou para o enriquecimento de alguns se constitui numa questão ética não só pelo uso exploratório de algo que é de todos (e que pode nos ajudar a viver melhor), como também por uma questão de um uso irresponsável que pode nos levar todos à extinção ou a situações catastróficas.

Tapar o sol com a peneira dizendo que os cientistas não tem nada a ver com isso e querer que a ciência, enquanto fenômeno histórico, não possua imbricamento com o sistema que a financia e a faz avançar, é apenas olhar para outro lado e não se responsabilizar pela própria história da qual fazemos parte. Por outro lado, demonizar a ciência como responsável direta por esse tipo de coisa é leviano e superficial. É preciso desenvolver uma visão crítica mais ampla acima de partidarismos, procurando uma coerência dialética.

 

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domingo, 14 de novembro de 2010

A Morte de Deus, o Deus que Dança e o Devir…

"É verdade: amamos a vida não porque estejamos habituados à vida, mas ao amor. Há sempre o seu quê de loucura no amor; mas também há sempre o seu quê de razão na loucura.

E eu, que estou bem com a vida, creio que para saber de felicidade não há como as borboletas e as bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe entre os homens. Ver revolutear essas almas aladas e loucas, encantadoras e buliçosas, é o que arranca a Zaratustra lágrimas e canções.

Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar.”

(NIETZSCHE, Friedrich W. Assim Falou Zaratustra. Os Discursos de Zaratustra. Ler e Escrever. p. 36. Tradução José Mendes de Souza. Fonte Digital eBooksBrasil.com)

arvore E eu também. Penso que só um Deus que soubesse dançar não estaria morto como anuncia o louco na Gaia Ciência de Nietzsche. Por conceber um Deus fixo, imutável, carrancudo, ideal, ou melhor, por sermos tão soberbos em determinar como Deus deva ser, é que o tornamos tudo aquilo que precisamos que Ele seja para compensar nosso complexo de inferioridade.

Depositamos tudo o que não conseguimos ser em Deus; resignados, na esperança de que, pelo menos, sejamos amparados por Ele na reunião de tudo o que tomamos como perfeito. Mas perfeição, para nós, é ter o controle de tudo, ter tudo sob nosso domínio, sermos capazes de prever os menores acontecimentos e driblarmos todas as dificuldades. Ora, se não conseguimos, se algo assim está totalmente fora do alcance visível de nossa vida, precisamos eleger um Ser que tenha esse domínio total e que possa nos proteger em nossa pequenez. Se a partir de Sócrates esse “Ser” poderia ser atingido pela razão, na Idade Média foi substituído pela idéia do Deus judaico-cristão, e na modernidade pela ciência e pelo pleno domínio racional da natureza pretendido pelos iluministas e positivistas.

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sábado, 23 de outubro de 2010

Diálogos sobre Justificação

figura_01 Do Blog de um colega do Orkut (leia em Investigação Filosófica) foi afirmado que qualquer justificação de P teria que trazer como conceito a impossibilidade de não-P. Esse, sem dúvida, seria o melhor dos mundos e nas ciências naturais é muito provável que encontremos inúmeros exemplos desse tipo de justificação. Inclusive penso que o falseamento popperiano traz em seu bojo esse conceito desde que Popper se virou contra o positivismo. Porém Popper foi mais prudente, pois não precisamos “provar” nem demonstrar a impossibilidade de não-P. Basta que deixemos em aberto que se não-P existe, então P é falso. Pronto, estabelecemos com isso uma verdade provisória da afirmação de P. Penso que seja um critério mais lógico e possível que o do Rodrigo Cid.

O cerne da discussão parece-me ser a questão do que torna uma afirmação uma verdade indubitável. Não uma possibilidade de verdade, mas sim uma verdade total, diria até absoluta. Mas o que dá para concordar com o que foi dito?

Infelizmente a realidade não é tão “preto no branco” assim. Tudo seria mais fácil se fosse e por “precisar” ser mais fácil para uma maior previsibilidade, o ser humano foi pródigo em determinar que o mundo fosse sim “preto no branco” (e isso aconteceu até na esfera racial). Parece que assisto apenas uma inversão do positivismo, onde sua negação traz os mesmos vícios que o tornou o que é. É um paradoxo absolutista.

Em suma, se P só pode ser justificado pela impossibilidade de não-P, em tese poderíamos dispensar as razões de P existir? Percebem as conseqüências disso? Ou seja, posso justificar qualquer sandice desde que demonstre e justifique que a não-sandice seja impossível. Soa-me estranho, confesso. Pode até ser que eu não esteja alcançando o nível de raciocínio dos membros do Blog, mas soa-me realmente estranho.

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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Religiosidade do Brasileiro e as Eleições

Curioso ver que somente depois da criacionista Marina Silva sair da disputa é que a questão religiosa virou tema político na eleição para presidente no Brasil. Com quase 20 milhões de votos, Marina não apelou para seus correligionários evangélicos em nenhum momento, ao passo que assistimos Serra e Dilma se estapeando e trocando acusações para que não desagrade essa parcela da população.

Em entrevista À BBC Brasil, Marina disse:

Somos um país onde mais de 90% das pessoas creem em Deus, e esse é um dado de realidade que não se pode negar. No entanto, precisamos ter a sabedoria de não importar conflitos religiosos que existem em outros países para o Brasil, onde temos cultura de respeito pela diferença e pela diversidade. Mas o respeito pela diferença e pela diversidade pressupõe o direito daqueles que são evangélicos ou católicos de afirmarem os seus pontos de vista.

marina1Eu gostaria muito de saber o que significa e qual a amplitude desse direito de “afirmarem os seus pontos de vista”. Por acaso, para Marina Silva, se ao meu ponto de vista estiver agregado propagar e disseminar preconceito contra homossexuais e/ou contra outro gênero, então eu tenho direito? Pois é esse o direito que grande parte das denominações cristãs querem ter: o de dizer e instruir a todos que homossexuais vão para o inferno e que, sob os olhos de Deus, amar alguém do mesmo sexo é abominável e torna o cidadão um ser de segunda categoria.

Ela diz que o respeito pela diferença e pela diversidade pressupõe o direito dos religiosos de afirmarem os seus pontos de vista. Claro que sim. Mas pressupõe mais coisas. Antes dessa pressuposição existe uma outra pressuposição: qualquer afirmação daquilo que se pensa não pode cercear o direito do outro em ser o que é, seja diferente da maioria ou não.

Ora, por que essa senhora (que hoje tem um peso considerável nas mãos para apoiar Dilma ou Serra) não pressupõe também esse fato? E por que os covardes Serra e Dilma, ao invés de se estapearem para mendigar voto religioso não usam da coerência que precisamos ter para o próximo governante desse país?

Direito à diferença e à diversidade não significa direito em invadir o direito do diferente e do diverso. Isso é tão óbvio que chega a doer. Impedir alguém de discriminar o diferente, não é cercear o direito à discriminação, mas garantir que o diferente possa ser o que é sem ser tolhido.

Um Estado Laico precisa garantir o direito das pessoas. Os gays não reivindicam o direito de falar mal dos evangélicos, apenas querem o direito de serem quem são sem terem de ser ofendidos e condenados ao inferno por esses “detentores da verdade”. Os evangélicos reivindicam o direito a discriminação e a proferir a condenação de pessoas que são diferentes deles. Ora, quais direitos legítimos aqui estão em jogo?

Não basta para os religiosos que os que crêem não façam aborto ou sejam heterossexuais. Eles precisam legislar sobre a vida daqueles que não comungam com eles das mesmas crenças. Eles precisam controlar e impedir a homossexualidade e o aborto mesmo daqueles que pensam diferente deles. Eles precisam que a sociedade toda pense e acate suas crenças, com pena de ser condenada ao inferno e discriminada como criminosa ou doente.

Quantos crimes e doenças não se proliferou na história da humanidade em busca de uma totalização de comando e crenças?

Para se pensar…

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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Moralidade e Verdade

Reflito sobre uma leitura que fiz de Habermas:

Por outro lado, a verdade de uma proposição expressa um fato, no caso dos juízos morais não há nada que equivalha à afirmação de que um determinado estado de coisas ‘é’. Um consenso normativo, formando em condições de participação livre e universal no contexto de um discurso prático, estabelece uma norma válida (ou confirma sua validade). A ‘validade’ de uma norma moral significa que ela ‘merece’ o reconhecimento universal em virtude de sua capacidade de, por meio da razão somente, obter o consentimento da vontade daqueles a quem se dirige.” (HABERMAS 2007, p. 65-66) [i]

habermasCom isso ele diz que a única forma de substituir a referência ontológica a um mundo objetivo é, em nós, na qualidade de pessoas morais, afirmarmos os sentidos morais por meio de uma construção conjunta, dialogada. Eu concordo com ele e com o sonho de uma democracia plena que nos dê livre acesso à construção conjunta do discurso racional que escolheremos permear nossas vidas e nossos destinos.

Porém e, infelizmente, isso me soa utópico. Enquanto houver aqueles que delegam a outrem o seu co-pertencimento à sociedade, enquanto houver alguém que aliena as decisões sobre sua vida e deixa-se oprimir para ser representado por grupos, associações, clubes, governos e ideologias, sempre haverá uma referência ontológica para a moral e para o mundo objetivo.

São esses grupos que determinam as coisas como devem ser e as pessoas como devem ser e agir. Eles determinam o espírito, o fundamento e a finalidade do mundo de acordo com seus interesses; inclusive dando respaldo metafísico para isso. Eles contam não só com a alienação das consciências individuais a seu favor de forma voluntária, mas usam de seus instrumentos coercitivos para angariar quem se aliene a favor de suas idéias, excluindo e discriminando quem não concorda ou pensa diferente.

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sábado, 12 de junho de 2010

Jovens Velhos...

CorpoVelho-MenteJovem Existem jovens que são velhos. Velho já sabe tudo. Não acredita que existam mais coisas a serem nomeadas e relacionadas. Tudo já se encontra encaixado naquilo que sempre esteve e ele já descobriu ao longo da vida. Quando é que recuperaremos enquanto humanidade a nossa capacidade de nomear as coisas novamente, de estabelecer novas relações e valores entre elas?

Quando abrimos mão de corresponder à expectativas, sejam do mundo, da sociedade e nossas mesmos, parece-me que recuperamos uma antiga capacidade humana (própria até da juventude) de nomear o mundo muito mais por aquilo que desejamos dele, do que por aquilo que ele espera de nós. E é só assim que transformamos o mundo, ou seja, quando abrimos mão de reproduzir os nomes e as relações já estabelecidas e passamos a nomeá-lo (ele e as coisas dele) a partir de novas perspectivas e desejos que não reprimimos para atender o status quo.

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Sobre o Ser e o Devir da Linguagem

Mas que Ser é esse, fugidio, que nos confunde pela escrita, pela a fala, pelo mundo, signos, coisas? Qual o Ser por traz do simples “parole”? O que significa dizer algo? Algo realmente é dito (ou seja, a linguagem é uma coisa e tem Ser próprio) ou só podemos dizer algo sobre outro algo (mera representação)? Como os falantes se entendem e se comunicam dentro de determinados contextos e de sua singularidade como seres? As questões lingüísticas, semiológicas ou semióticas confundem-se com questões talvez mais profundas que envolvem não só a origem da linguagem, mas como ela se dá fenomenicamente e, mais do que isso, que função exatamente ela cumpre na relação homem-mundo e homem-homem.

linguagem-corporal

Muitos se ocuparam dessas questões, mas não primordialmente se levarmos em conta a História da Filosofia. Husserl foi um deles e talvez pioneiro na forma como abordou o modo de existência da linguagem. Enquanto Descartes, Hume e Kant situados na Filosofia Clássica se ocupavam do problema do conhecimento pela relação entre o pensamento e as coisas, há pelo menos um século se assiste a virada lingüística colocando em pauta o problema do sentido e da significação como anteriores ao do próprio conhecimento; senão até como pressuposto de todo conhecimento possível.

Os protagonistas dessa “virada lingüística” na filosofia, dentre eles e com destaque Wittgenstein (seguindo a seu modo as problemáticas iniciadas por Frege e Russel), trouxeram a questão de que só através da linguagem e da lógica é que poderíamos fundamentar as ciências, justificando seu necessário caráter universal e objetivo. Com isso afastaram-se da idéia dominante até então de que toda ciência partiria de um Sujeito do Conhecimento. Certo é que essa contenda não acabou.

 

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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Evolucionismo.Ning – eu faço parte…

Com muito orgulho assisti uma entrevista de Eli Vieira em vídeo postado no Orkut por minha amiga Asa Heuser. A entrevista foi feita pelo site do Instituto Ciência Hoje e repercute o que todos nós, que já acompanha o jovem Eli,  o esforço, dedicação e seriedade que ele tem no ensino da Teoria da Evolução e do benefício do esclarecimento e do conhecimento científico para muitas pessoas.

O orgulho, não só pela empatia que tenho por ele, reside também no fato de eu fazer parte de sua rede Evolucionismo, assistir seu crescimento pessoal e profissional e ainda ter a honra de ver artigos meus citados dentro dos cinco passos do evolucionista no portal, fazendo parte do Top 10 da comunidade.

Particularmente gostei muito da quarta parte da entrevista, a qual reproduzo o video aqui, mas recomendo que assistam e lêem tanto o texto quanto os vídeos todos no site do Ciência Hoje.

Nessa parte da entrevista, destaco a visão do Eli sobre a reconfiguração dos conflitos ideológicos como parte da facilidade da informação dada pela tecnologia. Ele diz::

“Algo que, na minha visão, potencializa isso [a questão da ampliação ideológica do conflito] é a tecnologia da informação. Então, em um ambiente em que tudo pode ser falado e tudo pode ser debatido, haverá conflito. Hoje na internet eu digo que a resposta para a pergunta milenar “De onde viemos” está na biologia evolutiva. De onde viemos? Nós viemos de uma população de primatas que viveu na África, no leste africano, há cerca de 200 mil anos atrás. (…) As ideologias negacionistas da evolução não são sempre religiosas.” (Eli Vieira)

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domingo, 14 de março de 2010

O Mistério Feminino…

O enunciado proposto por Simone de Beauvoir -- "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher" -- provocou um deslocamento da naturalização da condição feminina construída nos séculos XVIII e XIX e abriu um leque de possibilidades para pensar "o que o sujeito pode se tornar, sendo (também)mulher". O efeito social provocado pelas mulheres na luta por seus direitos introduziu a necessidade de pensar sua história. A partir daí, incorporou-se no horizonte do trabalho reflexivo o efeito histórico da relativização da 'essencialização' do feminino. Na medida em que foi sendo tecida uma história coletiva, puderam-se reconstruir histórias individuais e reinventar projetos para o futuro.

A mulher e o Ser Feminino colocam-se diante do masculino como um mistério. Tentativas exaustivas existiram para saber tanto o que representa a mulher para o mundo masculino, quanto o que a mulher deseja. O homem, tomando a si próprio como referência, jamais chegará nem perto de descobrir. Tirando a voz da mulher e sua possibilidade de construção responsável de si, muito menos.

Como uma mulher poderia dizer o que deseja se grande parte do que ela deseja foi engendrada nela a partir de um universo que apenas lhe tange e não a abriga como sujeito? Confundimos as referências das mulheres, impondo-nos a nossa referência, e exigimos que elas se expliquem.

Claro é que o homem não pode se definir afastado e isolado da mulher, assim como pouco provável seria a mulher conseguir isso de forma isolada. Se ambos dividem o mesmo espaço em uma relação recíproca, a simbólica não pode ser unilateral, com pena de um dos lados perder sua própria identidade e ser chamado de confuso e/ misterioso. Triste isso, mesmo que adquira um ar romântico.

Uma grande dívida da Filosofia foi tomar o referencial de quem a fazia para construir o estatuto ontológico do ser humano. Essa dívida, espero, pode ser paga a partir da inserção cada vez mais crescente das mulheres nesse campo. Mas é preciso que elas possam, sobretudo, problematizar essa questão e terem sob suas perspectivas a arbitrariedade que é considerar a questão da sexualidade como mero acidente na construção ontológica.

Mas como fariam isso se é ainda a sociedade falocêntrica que determina os interesses de pesquisa para a manutenção do status quo? Esse fato exclui em becos sectários um importante arcabouço de saberes que as mulheres fora desses becos e muito mais os homens, perdem em considerar essas questões nas reflexões mais abrangentes que fazem.

Curioso é que para problematizar isso é preciso, no olhar masculino filosófico, definir o que seria a identidade feminina e a identidade masculina. Mas toda definição da identidade feminina que passe por uma construção masculina, deixará lacunas insondáveis. Ao recorrermos às próprias mulheres para essa tarefa, entra em cena uma possível característica de seu tipo de pensar: a definição aberta, contingencial, não delimitadora, mas apenas orientativa. O que se inicia a partir daí é uma questão epistemológica, em que o acesso por vias masculinas é substancialmente diferente das vias femininas.

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quarta-feira, 10 de março de 2010

FILOSOFIA GERAL Wiki - DEVIR

FILOSOFIA GERAL Wiki - DEVIR

Artigo de minha autoria no Projeto Wiki Filosofia Geral que estou fazendo. Comentem lá, clique na aba "Discussion".

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segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher (O que comemorar?)

Saindo do Terreno Comum

mulher Se a todos vocês não soar estranho o fato de um homem estar escrevendo um texto para o Dia Internacional da Mulher, é simplesmente por que o fato é sintomático da situação a qual vivemos em nossa sociedade. Gostaria, no entanto, que fosse sintomático de novos tempos onde a possibilidade de não ser necessário a celebração de um gênero específico nos mostrasse que estaríamos acima de dualidades ao tratar o ser humano. Infelizmente o sintoma é outro e infelizmente não é agradável.

Tanto o próprio fato de um homem estar escrevendo esse artigo quanto o fato de vocês não se espantarem, circunscrevem-se nos sintomas de uma sociedade que, embora lute cada vez mais para a diminuição das diferenças, está inserida numa cosmovisão maior que nem se apercebe daquilo que pode ser questionado e repensado em termos de modelos. Pensamos todos; homens, mulheres e transgêneros com base no pressuposto epistemológico falocêntrico do mundo globalizado.

A idéia desse ensaio em “comemoração” ao Dia Internacional da Mulher é justamente sair do terreno comum (da distribuição de botões de rosa, chocolatinhos, da exaltação da maternidade feminina, ou mesmo da pregação ideológica de igualdade) para suscitar, filosoficamente, o que pode ser questionado e sentido em relação à condição do feminino em nossa sociedade.

A família, tida como célula máter de nossa sociedade, desde sempre reproduziu em seu bojo os mesmos fundamentos pelos quais a nossa sociedade fora erigida. Porém, assistimos estupefatos a sua reformulação e a queda de conceitos arraigados que tanto nos foi caro em épocas precedentes para que pudéssemos saber onde estávamos e onde poderíamos ir. A sociedade atual, conseqüência direta de valores e conceitos decorrentes de uma forma de Ser baseada no sexismo e na competitividade, tem nos levado à iminência do esgotamento de todos os recursos naturais e éticos, fazendo prevalecer um valor único que determina todas as nossas ações: o individualismo competitivo do macho alfa.

Nesse contexto, pensar o feminino é pensar a sociedade como um todo; pensar na sociedade que queremos; pensar naquilo que nos funda como sociedade e indivíduos; pensar, sobretudo, na questão de gênero e nos valores que podem ser construídos, conservados e repensados na forja de novos olhares que vislumbrem um futuro desejável ao Ser Humano. E esse pensar não pode ser feito por uma única perspectiva, a não ser que ela se coloque acima das dicotomias e, portanto, emergindo a partir da pluralidade e da diferença constitutiva do próprio Ser Humano.

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sexta-feira, 5 de março de 2010

Acaso, Aleatoriedade e Propósito (Parte 2)

Bolas aleatórias Quero crer que os conceitos expressos no artigo anterior tenham ficado claros para continuarmos. Noções como heurística, teleologia e teleonomia são de suma importância para que entendamos não só o processo científico, mas os motivos pelos quais os argumentos criacionistas e de sua vertente pseudocientífica (o Design Inteligente) não se sustentam dentro daquilo que alegam pretender: serem uma alternativa às teorias vigentes e ter o estatuto de conhecimento científico.

Nesse artigo tentarei discorrer sobre a possibilidade da emergência de estruturas complexas cujo Télos se defina dentro do próprio processo e dispensa a necessidade de uma intencionalidade e direcionamento prévios: pilares dos conceitos criacionistas de Complexidade Irredutível e Complexidade Especificada. Esses conceitos, cunhados por seus autores Michael Behe e William A. Dembski respectivamente, trazem como conseqüência (nos argumentos de seus autores) a exclusividade da conclusão lógica de um projetista inteligente para todas as formas de vida.

Minha idéia, assim como de muitos que vêem uma separação heurística fundamental entre fazer ciência e outra atividade qualquer, não vai em direção (insustentável a meu ver) contra a existência nem de Deus e nem da possibilidade de algum tipo de direcionamento ou impulso prévio que manteria ou desenvolvesse a vida dentro de certas restrições. Minha idéia é demonstrar que, mesmo concedendo a possibilidade dos “tedeístas” e criacionistas estarem certos, a forma como eles postulam suas hipóteses não tem sustentabilidade nem científica e nem dentro de seus próprios raciocínios, pois:

1 – Sua heurística se baseia em raciocínios que hiperbolizam suas observações condicionadas por pressupostos não demonstrados e tomados como absolutos e

2 – Seus pressupostos requerem um nível de cognoscibilidade atual impossível, sendo que se eximem de demonstrar sua possibilidade.

Dessa forma, como indicado ainda no artigo anterior, faltará abordar também a própria idéia de Deus como conceito lógico que dispensa qualquer necessidade de atribuição necessária de um propósito próprio, sendo que postulá-lo, significa tão somente atribuir nossos propósitos, carências e desejos em uma idéia que fazemos d’Ele. Seria, sobretudo, inferir que teríamos acesso à Sua natureza, Seus desejos, impulsos e modos de Ser. Isso, sem dúvida, constitui-se em uma arrogância sem tamanho e nada nos garante que tenhamos acesso a esse tipo de conhecimento para postulá-lo. Ou seja, a petição de princípio que fazem para chegar às conclusões que chegam, necessita de algo fora do magistério científico: a fé. Essa parte ficará para a seqüência dessa série de artigos.

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segunda-feira, 1 de março de 2010

formspring.me

Pergunte-me o que gostaria de saber de mim! http://formspring.me/gilmirandajr

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sábado, 13 de fevereiro de 2010

Acaso, Aleatoriedade e Propósito (Parte 1)

Um dos grandes problemas epistemológicos que a teologia enfrenta ao analisarmos filosoficamente a relação humana com o divino é: até que ponto é atribuído a Deus as características que o homem precisa atribuir a si mesmo ou que as tomam a partir da necessidade de aspirar-se a uma determinada forma de ser? Outra questão importante também é: até que ponto o homem tem acesso a uma suposta natureza divina para postulá-la em suas características e poder construir discursos sobre ela? E por último, como deve ser classificado esse discurso diante da dúvida iminente sobre se o homem teria as propriedades e competências epistêmicas para construir um discurso sobre o divino e sua natureza? As três indagações se interpenetram e fazem um télos próprio que torna insustentável certos argumento que tentam se fazer de científicos, mas caem no puro proselitismo religioso.

mao_de_deusDessa forma, o grande problema no “raciocínio” dos postulantes ao Design Inteligente (doutrina criacionista dissimulada em pseudociência) é confundir uma teleonomia verificada em um sistema organizado e complexo, consumidor de energia, com um projeto prévio e intencional de origem divina. Antes disso, porém, esse projeto postula-se ligado por um princípio conseqüente de uma idéia sobre como Deus ou essa Inteligência deva agir e ser: conhecimento tal que é preciso revestir-se de uma arrogância sem limites para postular.

Ou seja, problematizo aqui não só a conexão necessária entre teleonomia1a e projeto intencional, como também a petição de princípio de um conhecimento não justificado da natureza e forma de agir de uma suposta força inteligente (Deus) que o ser humano dificilmente teria acesso ou cognoscibilidade.

Essas petições não têm estatuto científico, tampouco se baseiam em uma heurística que se possa considerar epistemicamente virtuosa, pois se tratam em todas as instâncias possíveis de um salto de fé com intuito de conferir sentido a uma ignorância provavelmente eterna para os seres humanos. Mesmo que não possamos defini-la como “eterna”, há de se escolher um método de aproximação (heurística2) que afaste de todas as formas as petições de princípios não verificáveis. Por outro lado, decorre desse “salto” a propalada suposta evidência à frente de conceitos criacionistas famosos como: Complexidade Irredutível e Complexidade Especificada.

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domingo, 7 de fevereiro de 2010

O Ensino do Criacionismo em Aulas de Ciências

adao_e_deus Toco, não contra minha vontade, em um assunto polêmico, porém necessário. Antes da defesa de qualquer bandeira não há como analisar um fato e posicionar-se dentro de uma perspectiva sem que as cartas estejam na mesa. Até porque mesmo que já tenhamos como pano de fundo uma perspectiva, é preciso analisar os fatos para que o posicionamento seja coerente e justificado dentro do mínimo de bom senso que se espera. Até porque os fatos nunca são eles próprios de forma pura e simples. Há sempre coisas em jogo além dos fatos quando se olham os fatos.

A questão central é que para quem preserva um firme propósito diante da verdade, se os fatos sugerirem ou demonstrarem que nossa perspectiva esteja equivocada, começamos a perceber uma desconstrução natural de nossas crenças e assistimos um reposicionamento progressivo na amplitude de nosso olhar sobre o mundo. Os fatos nunca estão isolados. Sempre existe um contexto que os encaixa em um sentido maior que sustenta uma certa simbólica. O reposicionamento, porém, não acontece sem dor e para quem busca a verdade é preciso estar preparado para a dor e o desconforto. Na multiplicidade de opiniões em um esforço sincero de imparcialidade é que as coisas se ajeitam, tomam forma e constituem a realidade que nos circunda, tanto sensivelmente quanto simbolicamente; não sem antes assumirmos o quanto trágico isso pode ser e nos posicionarmos favoravelmente para reconstruções profundas.

Isso é o que difere, talvez, as buscas religiosas das buscas filosófico-científicas. Quem busca a verdade pela religião se acomete de uma Vontade de Verdade que não raro o cega diante de qualquer coisa que, supostamente, contradiga a interpretação canônica daquilo que crê. A busca da verdade religiosa é uma busca, primordialmente, de conforto psicológico e nisso não podemos negar que a religião é profícua, útil e (a despeito das más línguas) até necessária. Embora haja no bojo da atividade científica e filosófica uma disposição “natural” ao conforto (pois são feitas por homens e suas complexas psiques), não é possível dizer que essa busca seja a primordial. Por esse motivo é que elas se constituem um plano de saber diferenciado e não raro promotoras de angústias e sofrimento para aqueles que precisam desconstruir suas crenças e verdades prontas para se abrirem às evidências.

charles_darwin A questão criacionista é uma questão delicada. Envolve muito mais do que crer ou não crer, nem tampouco invade a questão da validade ou não em se ter crenças. A questão é sobre a validade de se solicitar um estatuto a algo sem que esse algo cumpra aquilo que lhe classificaria dentro do estatuto que ele pleiteia. Ou seja, o criacionismo (e sua vertente menos religiosa o DI – Design Inteligente) solicita o estatuto científico sem querer ou se preocupar em cumprir os requisitos que os incluiriam como ciências. Como encarar isso? Como os próprios crentes poderiam encarar isso? Eis a questão.

Quem é do meio científico, seja estudante ou cientista atuante (sendo crente ou não) sabe o que o estatuto científico e a comunidade científica prescrevem para que uma atividade ou um corpo de pensamentos possam ser considerados como tal; dessa forma candidatar-se a ter esforços e financiamentos direcionados às pesquisas que corroborem seus postulados. Quem não é, ou não aceita, pois se “encastela” em verdades prontas a serem apenas confirmadas, simplesmente tenta desestabilizar esse estatuto com vistas a embrenhar-se em suas rachaduras (naturais, inclusive) para validar algo sem classificação fora de sua esfera: crenças.

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Trágico como Remédio para o Niilismo

anjo_tragico A configuração do pensamento trágico nietzschiano, principalmente a partir das considerações de Deleuze sobre a obra de Nietzsche, nos coloca a visão trágica do mundo como um antídoto não-dialético para o niilismo.

O trágico afirma o SER Universal a partir do Devir, afirma o UM a partir do múltiplo, a necessidade a partir do acaso e da aleatoriedade. Não há constituição cosmológica, não há “cosmização” sem pressuposição volitiva de uma força contra o caos, a desordem e a indistinção. No entanto, diferente de postular esse movimento volitivo contra o caos como dialético, ou seja, interrogando o caos para saber uma Verdade e Fundamento a serem descobertos por negação, a tragicidade constrói o fundo e a verdade sob a perspectiva de uma afirmação estética, dialogada afirmativamente entre o Belo e o Útil.

Quando a cosmização é simplesmente reativa, dialética, ela desemboca no niilismo. O trágico sempre será afirmativo e não reativo. O reativo, dialético, é simplesmente conservação de força frente ao inesperado, que precisa do controle e da submissão daquele que é atingido pelo inusitado. O trágico afirma-se na consciência plena do acaso como constituinte da própria realidade e o cosmiza ativamente e não reativamente. O trágico não só afirma a necessidade a partir do acaso, como afirma o próprio acaso; não só afirma a ordem a partir da desordem, como afirma a própria desordem; não só afirma o cosmos a partir do caos, como afirma o caos. Dessa forma afirma o Dever como constituído a partir do Devir, afirmando sobretudo o próprio Devir.

Essa é a grande inversão de Nietzsche, que tira do pensamento qualquer pressuposição de sentido e valor para construí-los (sentido e valor) a partir do jogo de forças visando expansão de potência. A grande denúncia de Nietzsche em relação ao pensamento ocidental está justamente em considerar todo pensamento que pressupõe sentido e valor já uma Vontade de Potência se afirmando como força e moldando os agentes a reagirem contra aquilo que constitui a realidade: a falta de valor em si e sentido próprio.

nietzsch1ppp A ação reativa embrenhada na pressuposição de sentidos e valores constitutivos de um fundamento do real é niilista, estatizante, cheia de deveres e fixada na conservação da predominância da força que institui uma dada situação e, como tudo, não passa de perspectiva. Ela reage contra o niilismo, mas se conspurca em sua raiz mais profunda, já que nega a realidade e a própria vida para fugir. Ou seja, é uma Vontade de Nada (ilusão) contra o Nada real.

Para Deleuze a história e a evolução expressam justamente o jogo dialético entre as forças reativas e o niilismo, já que é a Vontade de Nada que garante a sobrevivência dessas forças. As forças ativas embrenhadas na constatação do trágico e de dentro do próprio trágico, trabalham em outro nível vetorial; em combinação de forças.

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Choque Cultural? – Devir e Dever no BBB

falsidade3 Mesmo não acompanhando com assiduidade o BBB, esse tipo de programa sempre me atraiu por um aspecto antropológico. A idéia, que no início suscitava a observação do comportamento humano em uma situação de exposição, contaminou-se com uma representação forçada dos participantes em cada edição. Apesar desse aspecto negativo o programa resiste. Resiste muito pelo apelo ao que há de voyeur no ser humano e pela catarse que é expurgar seus próprios problemas e viver a fantasia alheia, na vida do “outro”; como um folhetim que promete a realidade. Tudo farsa, mas uma farsa que é igual a própria realidade que vivemos. Afinal, a realidade pode muito bem ser uma grande farsa bem contata com anuência coletiva. Se fosse, jamais perceberíamos, pois como farsa, ela estaria calcada justamente naquilo que não teríamos dúvida de sua concretude.

Há de se pensar até se a representação do que tomamos como concreto não se constitui em farsa também, mas isso é outra história. Farsa ou não, a vida e a verdade são constituídas pelos choques de cada singularidade existente, o que demonstra que não há um Télos, ou um Dever em ser assim ou assado; mesmo quando duas pessoas se encontram ou quando duas culturas se encontram. Embora haja convenções que “encurtam” o caminho da aproximação, essas convenções jamais podem se tornar metafísicas. Elas precisam ser reafirmadas ou reformuladas na própria singularidade do encontro: é na singularidade dos encontros que se alimenta o Grande Discurso, o Logos, nossa maneira de ser, nossa cultura. Ou seja, nos fazemos no Devir e não possuímos qualquer dever em sermos como as convenções nos mandam.

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Paulicéia da Cefaléia: parabéns São Paulo 456 anos

Jockey Club de São Paulo A cidade de São Paulo chega ao seu 456º aniversário em estado de alerta pelas chuvas. O levantamento até ontem, dia 24/01/2010, dava conta de pelo menos 60 mortes desde o dia 1º de Dezembro. Junto a isso shows espalhados pela cidade faz a média por parte do governo da 4ª maior cidade do planeta.

São Paulo vive um cenário que deveria suscitar imensas discussões das pessoas engajadas na melhoria urbana, na discussão dos problemas nas megalópoles e tantos outros trabalhos visando prever e minimizar os efeitos do crescimento dessa cidade que responde por 33% do que é produzido em todo país. Porém vive no ostracismo de sua grandeza como se, comparado ao resto do Brasil, não tivesse o que reclamar. Tem sim, e muito!!!

Por outro lado, o mito do Sul Maravilha ainda persiste, fazendo com que cheguem os “ainda” desvalidos de todo canto para tentarem a sorte, como se São Paulo ainda precisasse ser construída por mão-de-obra semi-escrava para depois relega-la aos cinturões periféricos que lhe dão a fama de violenta a se organizarem em poderes paralelos que aterrorizam tantos os paulistanos quanto os migrantes e imigrantes que fazem dessa terra uma polinésia tupiniquim.

Mario de Andrade por Di Cavalcanti São Paulo já foi palco de revoluções, movimentos culturais importantes, que trouxeram os paulistanos e a cidade sempre em uma posição de vanguarda, apesar dos protestos dos “descolados” que se constituíam, por anuência e interesse do Estado, “os progressistas”. Assistimos aqui o nascedouro de movimentos que contaminaram o Brasil e o mundo, mesmo que esses movimentos não fossem protagonizados por seus “nativos”. Aliás, terra de Oswald, Mario e Rita Lee; terreno propício ao Tropicalismo Antropofágico e à Afrociberdélia do Mangue Beat, São Paulo importa, mastiga e cospe ao mundo tudo que lhe chega; abrigando, acolhendo, mas também fazendo sofrer, querendo luta e superação… São Paulo é antropofágico. Ele come seus inimigos e se torna mais forte. Quando é comido, irrompe das entranhas e surge mais forte. São Paulo é o único lugar do país em que podemos dizer: “é de todos nós”.

Do sotaque “italianado” ao arrastado caipira, já não sabemos mais como paulistano fala: ele fala a linguagem do mundo; terra de mil povos.

 

Uma Poesia a partir de SP

Em meados de 98/99 fiz uma poesia que expressava, ao menos na época, minha impressão da minha cidade. É curioso, e isso não é privilégio de paulistano, que somente nós, nativos, podemos falar mal e criticar nossa cidade. Viramos um “bicho” quando alguém de outro lugar vem falar da cidade, por mais pertinente que sejam as observações. Mas nós podemos, pois sabemos no fundo que nossa crítica não é excludente; é uma crítica que abriga um profundo desejo de melhora. São Paulo é grande demais, megalópole de um pais de terceiro mundo, não tem como não abrigar diversos problemas. Mesmo assim é o lugar da diversidade, do multiculturalismo, da transdisciplinariedade.

Abaixo segue a poesia… Pus em áudio também, com a música “Sampa” do Caetano Veloso ao fundo interpretada por Raphael Rabello ao violão e Paulo Moura no clarinete (instrumento que toco, inclusive) – espero que gostem e comentem…

 

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domingo, 24 de janeiro de 2010

Haiti 2: É possível um mundo para além do capitalismo?

Por Atanásio Mykonios¹

DSC01445 O Haiti parece nos mostrar ainda de forma cabal o fato de que o país deve ser reconstruído com a única referência que nos é possível – o capitalismo. Seria possível outra experiência, justamente em um país arruinado em todos os aspectos? O atual contexto parece negar isto. Imediatamente, todos os esforços se voltam para dois grandes intentos, a saber, o primeiro, humanitário, óbvio, na medida em que todo mundo não irá negar essa ajuda, salvar vidas, oferecer conforto, comida, medicamentos, tratamento médico, cuidar dos feridos e especialmente dos desvalidos sem abrigo. O outro objetivo é mais profundo e neste sentido, especialmente os EUA que mostraram empenho imediato em oferecer ajuda, especialmente, um tratamento de choque, ocupando os pontos estratégicos no que concerne à logística: porto, aeroporto, vias de acesso, etc. A reconstrução do Haiti terá como motivação a inserção do capitalismo em sua face moderna. É necessário que a reconstrução atenda às relações fundamentais do sistema, o país, neste aspecto, está fechado, sequer um Estado com feições comuns ao que encontramos entre nós existe.

haiti2 Por outro lado, a destruição do Haiti, por meio de décadas de ditaduras, exploração, abandono, indiferença e violência, não foram capazes de gerar entre os haitianos outro modo de vida. Isto pode nos revelar, afinal, que os empobrecidos e os explorados não encontram condições para criarem novas formas de relação social econômicas. Não quer dizer com isto que não haja experiências que tentam enfrentar a mercantilização, no entanto, a energia para superar o capitalismo foi extremamente sugada pelo próprio sistema. A reconstrução estrutural e material do Haiti requererá investimentos e anos de trabalho. Os haitianos serão explorados e mantidos sob controle rígido, contudo, serão empregados para serem submetidos a trabalhos pesados e receberão em troca um punhado de dólares, talvez mais do que recebiam até antes do terremoto. Ironicamente, serão mais felizes, terão comida à mesa e poderão levar os filhos à escola primária e com tudo isto, o mundo se orgulhará de reconstruir o Haiti sem os radicais islâmicos, os talibãs, os xiitas, e outros grupos de terroristas, até porque um povo absolutamente vergado receberá qualquer forma de ajuda com muito bons olhos. Assim, as gangues e os traficantes poderão ser controlados pelas forças de mercado ou até mesmo pelas massas de trabalhadores empregadas que exercerão mecanismos de compensação e controle social legitimando a ação das forças policiais que atuarão com o rigor de quem supostamente protege os trabalhadores da reconstrução do Haiti.

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Fazendo ECO aqui…

Umberto Eco - Copyright 2010 by R. D. Flavin Acabei de ler um excerto de um texto de Umberto Eco postado no blog de Alice Valente, chamado Os Poetas e a Interrogação do SER em ECO, do livro Kant e o Ornitorrinco (Edições DIFEL 1999). Eco é um autor raro. Em geral, entre os incautos, ele não é chamado de “Filósofo”, o que faz com que ele se sinta (e nos faça sentir) ser autorizado para criticar a Filosofia naquilo que ela se enclausura no pensamento da tradição; felizmente liberta pela contemporaneidade. Ele é um “ensaísta”, digamos assim. Um escritor. Um artista das palavras e que tanto pode construir tramas (como O Nome da Rosa), como dedicar-se à reflexão sem os rigores de uma filosofia menor, caduca, fechada em seus limites e pretensamente abarcante da totalidade do real. Eco faz eco (desculpem o trocadilho) “ensaiando”; ou seja, fazendo obras abertas, tentativas, aproximações… Algum outro incauto pode ver nisso um sinônimo de “imprecisão”, mas não lhe faltam rigor, método e profundidade.

No trecho destacado por Alice suscita-me um questionamento. Não aprecio a crítica que parte de um conceito já pronto, a não ser que seja para questiona-lo e reformula-lo sob uma perspectiva que o atrele ao perceptível. Quando Eco fala do SER ele fala do SER parmenediano, um SER análogo ao OVO Primordial dos Órficos e ao Número de Pitágoras, e que foi responsável por toda filosofia platônica e pela cultura ocidental ao sincretizarem-se com o judaísmo-cristão. Até hoje há controvérsias em relação às raízes orientais da filosofia, mas não é possível negar que, ao menos em uma vertente da Filosofia, há clara comunhão cosmovisionária com a mítica oriental. Não nego, no entanto, que mesmo havendo essa raiz comum, os gregos, assim como salienta Nietzsche, não tiveram uma cultura autóctone:
“(…) eles sorveram toda a cultura viva de outros povos e, se foram tão longe, é precisamente porque sabiam retomar a lança onde um outro povo a abandonou, para arremessa-la mais longe” (NIETZSCHE, Filosofia Trágica na Época dos Gregos, §1, p. 263)1
Um Universo que transcende a partir de uma Unidade2 constitutiva que se degenera na diversidade é uma concepção recorrente oriental (e mundial) que foi apropriada e racionalizada pelo pensamento filosófico de linha órfica-pitagórica-platônica. Esse SER esférico, imóvel e compacto cumpre as exigências de uma coletividade que precisa postular uma realidade fundamental que explique as ambigüidades experimentadas no cotidiano e direcione, com um Télos, as ações e objetivos coletivos. Esse Universo cria um Dever que direciona as ações para resolve-lo naquilo que é e que não pode deixar de SER.

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sábado, 23 de janeiro de 2010

O Necessário e o Supérfluo

Caneca USB Sonhos de consumo, vontades, desejos… Aparentemente coisas que não nos darão nada além do que satisfação momentânea, mas que se tornam importantes, desejosas, queridas e, pasmem, necessárias até. Dois exemplos estão aqui: uma Caneca USB e um Óculos com Head Fone Bluetooth. Que delícia…. rs… E como são necessários. mesmo que eu nem soubesse que eram necessários antes de vê-los e saber de suas existências. Isso não é estranho? De onde vem essa necessidade? Como ela nasce, se é que nasce? Ou é pré-existente, nos contaminando e fazendo com que queiramos e necessitemos de algo que nem sequer tínhamos consciência de sua existência?

Óculos Bluetooth A falta que esses produtos preenchem em mim já existia ou ela se constituiu a partir do benefício que minha percepção atribui, circunstancialmente, a eles? E esse suposto benefício em que consiste? Seria o caso de classificarmos quais benefícios são necessários e quais são supérfluos? Não estaria na carência de liberdade, percebida em nossa própria condição existencial, o arcabouço genético1 das necessidades do sujeito?

Desenvolvamos melhor isso. Em uma conversa com minha amiga Paula no Orkut, discutíamos os cárceres do sujeito e a liberdade em Sartre. Na ocasião escrevi a ela:

“Desde a invenção do EU, do EGO, do Si Mesmo, [ou da auto-consciência emergindo como condição humana] o homem projeta de si (do Sujeito que quer) um Eu que se relaciona com o mundo. Tanto Sartre como Lacan consideram esse EU (EGO) uma ficção2 que reproduz, via má-fé, os papéis que dão manutenção a essas “prisões” determinísticas de forma ideológica. É a primeira alienação humana. O Sujeito é encarcerado nesse EGO que medeia a relação de nossa condição com a circunstância. Porém essa mediação histórica é condicionada a ser sempre a favor da circunstância e o homem ainda não se viu livre dos valores que o obrigam a determinar-se nela. “

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Políticas da Imanência…¹

Img2361 “No começo era o movimento.

Não havia repouso porque não havia paragem do movimento. O repouso era apenas uma imagem demasiado vasta daquilo que se movia, uma imagem infinitamente fatigada que afrouxava o movimento. Crescia-se para repousar, misturavam-se os mapas, reunia-se o espaço, unificava-se o tempo num presente que parecia estar em toda a parte, para sempre, ao mesmo tempo. Suspirava-se de alívio, pensava-se ter alcançado a imobilidade. Era possível enfim olhar a si próprio numa imagem apaziguadora de si e do mundo.

Era esquecer o movimento que continuava em silêncio no fundo dos corpos. Microscopicamente. Ora, como se passaria do movimento ao repouso se não houvesse já movimento no repouso?

No começo não havia pois começo.”

(GIL, José. Movimento Total: O Corpo e a Dança. São Paulo: Iluminuras, 2004, Prólogo, p.13)

O espaço e o tempo como estruturas a priori e inerentes à sensibilidade do ser humano, conforme nos legou Kant², constitui na tradição o nosso campo perceptivo. Não foi pensado, porém, que essa estrutura não é o que é a não ser pela representação que fazemos na experiência imediata e dentro de uma lógica causal que, evolutivamente, se tornou uma espécie de modus operandi humano.

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Haiti : existem coisas que parecem conspirar…

haiti-generation Eu estava ensaiando uma forma de dizer alguma coisa sobre a tragédia que abateu o Haiti. Pensava a respeito, mesmo cheio de coisas para fazer, compromissos, trabalhos, estudos… Mas qual o que? Como pensar em compromissos, trabalhos e estudos diante de algo assombroso e absolutamente trágico desse? Quantas pessoas? Cem mim, centro e cinqüenta mil? Resolvi apenas escrever; refletir enquanto escrevo. Por todos os lados que tento olhar o acontecido, só uma coisa sobrevém: existem coisas que,  simplesmente, acontecem…. E são absurdas.

Fazendo uma pesquisa rápida na internet, encontro no Scielo uma resenha do livro Os Jacobinos Negros chamada O Épico e o Trágico na história do Haiti do historiador Jacob Gorender. No início da resenha Gorender diz:

“NESTE PRECISO momento, em que escrevo a resenha de um livro notável sobre o Haiti, o país caribenho esteve assolado por uma rebelião sangrenta, que obrigou o presidente Jean Bertrand Aristide a abandonar o cargo e se refugiar no exterior. Em dois séculos de história, no entanto, Aristide foi o primeiro governante haitiano a exercer o poder após conquista-lo pela via eleitoral, em 1994.”

O Haiti, de primeiro país latino-americano a conquistar sua independência nacional e ter sido a colônia mais produtiva das Américas, em menos de 150 anos, tornou-se o país mais pobre do continente. Independente do terremoto desse ano, que cai sob a égide, talvez, da maior tragédia natural do milênio, o Haiti era prova viva de que o ideal cubano, ao invés de morrer, poderia apenas ser melhorado rumo a uma possível democracia socialista. Um caso, sem sombra de dúvidas, de um capitalismo que não deu certo.

Historicamente, os dois terços da população negra da ilha sofreram as mais cruéis barbáries, explorações e abusos que se tem notícia, muitos, senão a maioria, semelhantes ao regime escravocrata brasileiro. Quando se viram livres e independentes, optaram a voltar a uma cultura de subsistência e a não ingressar na competitividade mundial, apesar de serem grandes produtores de açúcar.

Mesmo épica, com os levantes heróicos contra a colonização e, posteriormente, com a declaração definitiva da independência (vencendo franceses, ingleses e espanhóis) a história do Haiti se confunde com a impulsividade e a “circunstancialidade” de quem apenas quer um lugar para encostar e ficar quietinho; vivendo em paz e da maneira que melhor lhe aprouver. Não querem ser ricos, não querem competir, querem apenas subsistir e continuar subsistindo. A cada líder, seduzido pelos acenos internacionais que querem alguma vantagem posterior, o povo imiscui-se de sua responsabilidade por si próprio e deposita suas esperanças de forma messiânica. E toma…

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sábado, 9 de janeiro de 2010

Do Dever em Não Devir

DAutor_alicevalentealves_luzenten55 Existem coisas que, mesmo para um cético como eu, parecem ter sido obra de alguma deusa muito esperta. Falo da deusa Moîra, o Destino. Ter conhecido, mesmo que virtualmente, a artista plástica e poeta (e por que não Filósofa) Alice Valente Alves, seus trabalhos e suas idéias, foi para mim um grande momento no ano de 2009. Por acaso nos adicionamos pelo Facebook a partir de comunidades comuns e pudemos trocar breves idéias. A partir delas pude conhecer melhor seu trabalho. A admiração e a urgência de lê-la se fez presente desde aí.

Não estou aqui para divulgar nada, claro, mesmo que seja importante e necessário que um trabalho desse porte e alcance seja divulgado às expensas. Portanto indico, para que conheçam, os Blogs e Sites dessa artista e filósofa portuguesa antes de escrever algumas linhas sobre um texto seu que impressionou-me muito.

Site de Alice Valente – onde contém sua biografia e uma cronologia de seus trabalhos, textos e participação no cenário artístico e cultural português.

Blog de Alice Valente - ALI_SE – onde ela publica textos e parte de seu trabalho como fotógrafa e artista, além de poemas.

Seu trabalho sobre a relação do corpo com a existência é fantástico e gostaria de fazer algumas considerações sobre um texto específico dela que pode ser lido na íntegra em seu site.

Esse texto da Alice é uma Comunicação proferida em 2007 na 11ª Mesa-Redonda da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, cujo tema na ocasião era Crenças, Religiões e Poderes: dos Indivíduos às Sociabilidades.

O estilo do texto, em português de Portugal (que adoro ler e nos dá uma dimensão totalmente diferente de nossa língua – uma dimensão clara e original da língua que pensamos, sem qualquer justificativa, ser só nossa aqui no Brasil) é de uma precisão e beleza recompensadora, traduzindo de forma brilhante muito dos pensamentos e idéias que venho desenvolvendo em meus estudos. Por isso o interesse, por isso preciso comentar, ampliar, apropriar-me despudoradamente desses dizeres fantásticos.

É claro e notório, ao menos para quem acompanha esse Blog, que minha linha de pensamento e minhas concepções filosóficas tem muito a ver com o que ela diz e pensa. A necessidade de romper dualismos (ou de transforma-los de dicotômicos em dialéticos), o interesse estético da construção de possibilidades e a imanência na alteridade como construção possível do Logos são elementos presentes em meu pensar e expressão e no pensar e expressão de Alice. Esse texto é apenas mais um dos casos. Falemos dele com mais vagar…

 

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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Rex Extensa e Res Cogitans

Esse pequeno artigo foi originalmente publicado na Conecte (Blog da Associação Brasileira de Neurociências e Comportamento) em 10 de Outubro de 2009, podendo ser lido no original aqui: Rex Extensa e Res Cogitans. Reproduzo aqui no Blog por dois motivos: primeiro o orgulho de ter sido aceito um artigo meu em uma instituição que não é minha especialidade e nem minha área, trazendo uma reflexão filosófica a partir de Merleau-Ponty para as questões neurocientíficas. Sabemos que seus estudos contribuíram para o resgate de um monismo na questão mente-cérebro. Segundo é que já venho escrevendo sobre Ponty em alguns posts e esse vem a complementar meu estágio atual de estudo sobre esse filósofo fantástico e até relativamente pouco conhecido.

Vamos ao artigo…

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Uma nova filosofia, a filosofia do olhar, acontece quando se toma, historicamente, a inseparabilidade entre a Rex Extensa e a Res Cogitans, começando então um estudo de seu imbricamento no fenômeno humano. Em Vigiar e Punir Foucault nos diz que não é o corpo a prisão da alma. Se pudermos falar em prisões aqui, é justamente é a alma a prisão do corpo.

O Mecanicismo e o naturalismo nos fez perder a consideração de uma pluralidade de sentidos e uma diversidade de perspectivas possíveis que Merleau-Ponty tenta resgatar através de um exame minucioso da corporeidade e de suas relações e imbricamentos com as representações mentais que fazemos do mundo.
A realidade, para Merleau-Ponty, é inexaurível, inesgotável. Uma profusão de modos e fundos que se sobrepõem aos sentidos e que nos faz mergulhados em um mundo que a mente precisa categorizar para entender, e entender para extrair para si a utilidade da qual a consciência se intenciona e se volta.

Mas é então, nessa categorização mental, que temos a ilusão do entendimento. E se acreditamos entender, não pode haver nada mais além do que foi entendido, senão não foi entendido. E assim promovemos a cisão entre o que a mente percebe e o que o corpo nos diz. A mente prende o corpo, aprisiona tudo aquilo que vivencia e experimenta para nomear como realidade só aquilo que ela se dá como satisfeita nas categorizações que faz. É o reducionismo que nos traz tanta prisão.

A grande pergunta que se impõe, portanto, é: de que forma a mente se prende em suas categorizações se constituindo na prisão do corpo e como podemos fazer com que ela se abra para o que o corpo nos teria a dizer sobre o mundo? Como romper essa dicotomia entre corpo e mente nos vendo mais totais?

A neurociência teria muito a nos dizer se também pudesse nos ver mais totais do que simplesmente nos ver como efeito de uma causa mecânica. Em algum lugar entre a mente (como epifenômeno de processos físico-químicos) e os próprios processos corporais sintetizados no cérebro, antes de qualquer representação que essa mente produza, um Sujeito pré-consciente. Essa hipótese seria plausível?
Nas decisões que tomamos na ilusão de que somos conscientes de nosso ato decisório, há um processamento fora do limiar de nossa consciência, mas que de alguma forma, delibera em função de algo. Encontrar esse “algo” pelo qual todo nosso mecanismo corporal e representativo-cognitivo toma decisões antes mesmos de termos consciência dela, talvez seja o grande Graal filosófico-científico da contemporaneidade.

Onde ele estaria? Haveria, em alguma instância, a possibilidade real de um arbítrio livre? O que é ser livre?

by Gilberto Miranda Júnior in Rex Extensa e Res Cogitans no Conecte.
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A questão do livre-arbítrio e da liberdade é muito ampla e futuramente gostaria de trazer algumas reflexões sobre isso no Filosofando na Penumbra.

É isso. Um ótimo 2010 a todos.

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sábado, 2 de janeiro de 2010

O Bambu da Ticiane

caminho-bambu-getty Não gosto muito, principalmente por e-mail, de mensagens natalinas ou de ano novo. Acho, na verdade, uma coisa meio hipócrita, enviada a montes de gente, sem um direcionamento pessoal. Por vezes as mensagens são pura pieguice. Nunca me manifestei contra, ainda mais publicamente, afinal não é bom ferir suscetibilidades, principalmente de amigos. Só as “correntes” que, quando recebo, protesto mesmo.

O caso do Bambu da Ticiane é diferente. É diferente pelo próprio teor da mensagem (ela precisa ser coletiva mesmo) e também pelo simples fato de às 23:01 h exatamente, eu ter recebido um torpedo dela em meu celular dando feliz 2010. E como foi bom, como foi especial. Talvez ela nem saiba o quanto me fez bem ser lembrado (com tantas coisas que ela deveria estar fazendo na hora, pelo menos 3 cidades distantes de mim) e pego o celular para me desejar um bom ano. Infelizmente não pude responder (vergonha, estava sem crédito rs).

Hoje, em meu e-mail recebi uma mensagem da Tici. Chamava-se O Bambu Chinês. Constava eu como destinatário com vários outros amigos queridos que compartilharam conosco anos de estudo em filosofia e uma amizade inquebrantável além de nossas formações. O e-mail dela, mesmo coletivo, foi só reforço do carinho especial que ela demonstrou na noite anterior, ajudado, claro, pela reflexão interessante que ela suscitou nesse cansado filósofo de 2009, mas esse pretenso renovado filósofo de 2010. O texto é esse:

HORTO-CAMPOS_002-784488Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê  nada por aproximadamente 5 anos, exceto um lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo.

Durante 5 anos, todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, mas uma maciça e fibrosa estrutura de raiz que se estende vertical e horizontalmente pela terra está sendo construída. Então, no final do 5º ano, o bambu chinês cresce até atingir a altura de 25 metros.

O bambu chinês nos ensina que não devemos facilmente desistir de nossos projetos e de nossos sonhos. Em nosso trabalho especialmente, que é um projeto fabuloso que envolve mudanças de comportamento, de pensamento, de cultura e de sensibilização, devemos sempre lembrar do bambu chinês para não desistirmos facilmente diante das dificuldades que surgirão.”

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