segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A não tolerância: o grande desafio humano

Texto originalmente publicado no Repositório Filosófico.

tolerancia1 Ouvi/li em algum lugar que solicitar tolerância é tão preconceituoso quanto a discriminação. Faz muito sentido isso, pois quem precisa tolerar já se coloca em situação superior ao outro, inferioriza-o, como se dissesse: “olha, você é menos que eu, mas não se preocupe, magnânimo que sou, eu te tolero, ok?”

Esse é um exemplo curioso de como uma palavra que pretende mudar paradigmas e inverter o vetor do preconceito, acaba reforçando-o sem que seu uso fosse nesse sentido.

A grande ambigüidade aqui se situa numa questão de Lógica Hermenêutica. As palavras isoladas em seus conceitos mais comuns, ou em definições estritas, não refletem os sentidos que podem acrescentar ou até modificar seus significados. A rigidez de definições “esquece” e impede a dinâmica da língua, dos afetos, da ampliação horizontal e perspectiva (e não apenas vertical e progressiva) do conhecimento e das visões de mundo. Dialogar efetivamente, como nos ensina Habermas, é uma questão de Agir Comunicativo. Há de se compartilhar certa idiossincrasia ou aprendermos, via empatia, nos colocarmos na perspectiva alheia para dialogarmos.

Porém, a tentativa de uma ampliação horizontal ofende quem se acha detentor de uma única verdade e do discurso hegemônico baseados em conceitos que crêem serem metafísicos, embora não sejam. E é nessa ofensa que os dogmáticos (embora muitos não assumidos) se policiam para “tolerar” o semelhante. Porém ao exercer essa hipócrita tolerância, continuam excluindo e discriminando. Todo aquele que não comunga da visão de mundo e dos rígidos conceitos pelos quais os dogmáticos erigem seus castelos axiomáticos e determinantes do mundo, não pode compartilhar o mundo com eles.

Se o mundo pode ser melhor do que é, ou do que foi, só poderá ser quando abrigarmos a diversidade para além da mera tolerância. O grande desafio humano talvez seja aprendermos a nos destituirmos de nossas certezas (e não de nossas verdades) e nos abrirmos para a diversidade das verdades possíveis, procurando o consenso prático que abrigue a complexidade intrincada da qual o próprio mundo parece ser composto.

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